Porque é que a comunicação ainda não está sentada à mesa das decisões?

Por Soraia Pedroso da Costa, CEO & Founder SoraiaPedroso Boutique de Comunicação

As empresas estão mais digitais, mais rápidas, mais tecnológicas. Mas a forma como pensam a comunicação continua, em muitos casos, parada no tempo. Ainda se veem departamentos de marketing a operarem em silos, direções que tratam a comunicação como um acessório e decisores que só olham para ela quando algo corre mal. E talvez este seja o maior erro silencioso das organizações de hoje.

Porque a verdade é esta: enquanto a comunicação continuar afastada da mesa das decisões, as marcas nunca vão atingir todo o seu potencial. E, pior, vão continuar a gastar tempo e dinheiro em soluções táticas que resolvem pouco e pesam menos.

Durante anos, a comunicação foi vista como algo bonito, mas não essencial. Um comunicado aqui, uma campanha ali, umas redes sociais atualizadas. Mas isso não é comunicação estratégica. É decoração. Comunicação estratégica é escuta, é posicionamento, é consistência. É saber onde estamos, onde queremos estar e que relação queremos construir com quem está do outro lado. E isso não se decide no fim. Decide-se no início, ao lado da liderança, de igual para igual.

As empresas que colocam a comunicação no centro têm marcas mais coerentes, mais humanas e mais relevantes. Têm clientes mais fiéis, colaboradores mais envolvidos e uma cultura interna mais forte. Porquê? Porque a comunicação não serve apenas para contar histórias. Serve para criá-las.

Quando a comunicação é parte da cultura da empresa, tudo muda. Deixa de ser um departamento e passa a ser uma linguagem comum. Uma forma de ver, pensar e decidir. E é aqui que o papel das agências também precisa de mudar.

Não somos (apenas) fornecedores de serviços. Somos parceiros de pensamento. E é esse o tipo de relação que queremos cultivar. Aquele em que estamos lado a lado, a desafiar ideias, a construir posicionamentos, a preparar o futuro. A comunicação deve ter um lugar na mesa. Mas não para assistir — para influenciar.

Num mundo saturado de mensagens, o diferencial não está em quem grita mais alto, mas em quem diz algo com verdade e sentido. E, para isso, é preciso pensar antes de fazer. Alinhar antes de executar. Planear antes de publicar.

Colocar a comunicação na base da estratégia é deixar de agir por impulso. É sair do modo reativo e entrar numa postura de liderança. Porque quem domina a sua narrativa, domina também a sua perceção. E quem domina a sua perceção, tem o poder de influenciar com coerência, não com ruído.

Queremos marcas mais conscientes, mais presentes e mais alinhadas com os seus valores. Marcas que não dizem tudo a todos, mas que dizem as coisas certas a quem importa. Marcas que não têm medo do silêncio quando é estratégico e que sabem usar a palavra quando ela pode mover.

E, para isso, precisamos de comunicação pensada, estruturada, desafiante. Uma comunicação que sente o pulso ao mercado, mas não vive ao sabor da pressa. Que respeita os timings, mas que também sabe parar para refletir. Uma comunicação que não decora. Que transforma.

Porque comunicar é, sempre, um ato estratégico. E estratégia não se faz no fim. Faz-se onde tudo começa: na mesa das decisões.

 


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