Dados e IA generativa: uma janela para a alma das organizações?
Por Phil Le-Brun, AWS Enterprise Strategist
A Inteligência Artificial (IA) generativa tem vindo a transformar o panorama empresarial, com a promessa de revolucionar a forma como as empresas operam e interagem com os seus clientes. Mas, para além do hype e das promessas de inovação, qual é a realidade da adoção desta tecnologia?
Um estudo recente da Harvard Business Review Analytic Services, comissionado pela AWS, procurou dar resposta a esta questão analisando como as organizações estão a usar dados e IA generativa. O relatório “Scaling Generative AI for Value: Data Leader Agenda for 2025” revela tendências importantes em diversos setores e empresas a nível global, e oferece insights valiosos para quem pretende implementar a IA generativa nas suas organizações.
É interessante notar que, embora estudos anteriores se tenham focado apenas no papel do chief data officer (CDO), este relatório alarga o leque de intervenientes envolvidos nas decisões sobre IA generativa. A amostra de 646 empresas, que já utilizam ou planeiam utilizar IA generativa, oferece uma visão abrangente sobre a adoção desta tecnologia.
O estudo recolhe dados de diversas áreas de negócio em empresas de diferentes dimensões, e revela que os casos de uso mais comuns se encontram no desenvolvimento de software, produtividade, serviço ao cliente, vendas e marketing. Os inquiridos dividem-se em três grupos: os líderes, que já implementaram a IA generativa; os seguidores, que estão nas fases iniciais; e os retardatários, que ainda estão a avaliar a sua utilização.
Mais do que fazer um simples resumo, importa destacar algumas conclusões e reflexões que podem ser úteis para quem pretende implementar a IA generativa nas suas organizações.
Os dados revelam que apenas 47% dos inquiridos consideram que as iniciativas de IA generativa nas suas empresas estão a correr bem, sendo que mais de 20% dos participantes desconhecem o progresso destas iniciativas. Uma análise mais detalhada demonstra que o envolvimento da liderança é crucial para o sucesso, com quase 75% dos líderes satisfeitos com o progresso, em comparação com apenas 20% dos retardatários. Estes dados sublinham a importância de um envolvimento ativo e visível da liderança, que deve não só orientar as iniciativas, mas também clarificar o papel da IA generativa na estratégia de negócios e definir responsabilidades. A falta de clareza e de ownership são, aliás, apontadas como um dos principais desafios pelas empresas. É encorajador constatar que, em mais de 33% das organizações, o CDO assume o papel de líder da IA generativa, demonstrando uma crescente valorização do papel dos dados na estratégia de negócios e um reconhecimento da necessidade de integrar a IA generativa nas operações da empresa. Os CDOs, ao envolverem-se cada vez mais na estratégia de negócios e ao partilharem a propriedade dos dados, estão a contribuir para uma abordagem mais holística e eficaz da IA generativa.
Mas a liderança, por si só, não basta. A IA generativa depende de dados de qualidade para gerar resultados relevantes. O estudo revela que mais de metade dos inquiridos acreditam que a sua base de dados não está preparada para a IA generativa, sendo que os principais desafios incluem a limpeza de dados, a integração e a falta de roadmaps claros para dados e IA generativa. Apesar destes desafios, é animador constatar que 87% das empresas estão a investir em soluções, com quase metade a focar-se em melhorias na qualidade dos dados. Este investimento demonstra um reconhecimento da importância dos dados para o sucesso da IA generativa.
Ainda assim, o time to market continua a ser decisivo para a diferenciação. A rapidez com que uma empresa consegue colocar uma inovação nas mãos dos clientes é fundamental, mas o estudo revela que muitas empresas enfrentam dificuldades em dimensionar as suas iniciativas de IA generativa, devido a preocupações com a responsabilidade, a privacidade, a medição do ROI e a falta de roadmaps claros. A colaboração entre as equipas de ‘negócios’ e de ‘TI’ também se revela um desafio persistente, com 45% dos inquiridos a apontarem esta dificuldade. Este não é um problema novo, nem se limita às questões da IA generativa e dados. É tempo de mudar este paradigma e reconhecer que o trabalho é concretizado apesar destas divisões funcionais, e nunca por causa delas. Numa era em que os dados e a IA generativa são transversais a toda a organização, torna-se urgente abandonar de vez esta dicotomia ultrapassada e contraproducente entre ‘Negócio’ e ‘TI’.
Por fim, é fundamental não esquecer as pessoas. A melhor base de dados e as melhores estratégias de IA generativa não valem de nada se os colaboradores não estiverem ‘a bordo’ ou não tiverem as competências necessárias para a transformação. O estudo revela que quase dois terços dos inquiridos estão a investir na requalificação ou upskilling dos seus funcionários, o que é um sinal encorajador. As pessoas entendem o negócio e podem aplicar soluções tecnológicas a problemas e oportunidades reais. A IA generativa pode ajudar a reduzir o trabalho indiferenciado e a desbloquear talentos, por isso é importante criar espaço para as pessoas explorarem a IA generativa e experimentarem novas ideias. Se não o fizer, as pessoas de que mais precisa poderão abandonar a sua organização por outra que as apoie e não as limite.
O desafio que se coloca às empresas é, portanto, o de olhar para a IA generativa como um espelho da sua própria organização. A tecnologia reflete a qualidade dos dados, a visão da liderança e o compromisso com o desenvolvimento das pessoas. O sucesso requer bases sólidas em dados, liderança, requalificação e vontade de experimentar. Quer isto dizer que, se estes elementos não estiverem alinhados, a IA generativa não trará os resultados esperados.
É preciso, pois, repensar a forma como as empresas abordam a tecnologia, colocando as pessoas e os dados no centro da estratégia. Liberte a sua empresa das restrições de produtividade e fomente a inovação.