Ucrânia: Termina hoje o cessar-fogo de três dias decretado por Putin, marcado por múltiplas violações e escalada no conflito

Chega hoje ao fim o cessar-fogo temporário de três dias anunciado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, por ocasião das comemorações do Dia da Vitória da Rússia, celebrado a 9 de maio. Contudo, ao longo do período em que o cessar-fogo deveria ter vigorado, foram registadas centenas de ataques e trocas de acusações entre Moscovo e Kiev, com ambos os lados a relatar intensos combates e violações do acordo de trégua.

O cessar-fogo, que começou na quarta-feira à meia-noite, foi oficialmente promovido pela Rússia como um gesto simbólico para assinalar o 80.º aniversário da derrota da Alemanha nazi. Ainda assim, a Ucrânia acusou o Kremlin de instrumentalizar a data para efeitos propagandísticos, sem qualquer intenção real de suspender os combates.

O governo ucraniano reagiu com dureza à proposta russa de cessar-fogo. Andrii Sybiha, ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, classificou a iniciativa como “uma farsa”, numa publicação na rede X (antigo Twitter). Segundo Sybiha, entre a meia-noite e o meio-dia de quinta-feira, as forças russas terão violado o cessar-fogo 734 vezes, tendo lançado 63 operações ofensivas. No mesmo momento, ainda decorriam pelo menos 23 ataques, acrescentou o responsável.

De acordo com o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, nas primeiras 24 horas da trégua foram registados 154 confrontos com forças russas. O Ministério Público ucraniano informou ainda que uma mulher foi morta na região de Sumy devido a bombardeamentos russos e que várias outras pessoas ficaram feridas. Na região de Zaporizhzhia, um drone russo atingiu um automóvel, matando um dos ocupantes. Já na cidade de Poltava, um míssil danificou várias habitações.

Do lado russo, o Ministério da Defesa alegou que foram as forças ucranianas a violar a trégua, acusando Kiev de ter realizado 488 ataques durante o período do cessar-fogo e de ter tentado, por duas vezes, atravessar a fronteira na região de Kursk. Nenhuma das partes comentou diretamente as alegações do adversário, e a agência Reuters referiu que não foi possível confirmar de forma independente os números avançados por ambos os lados.

Entretanto, jornalistas incorporados numa unidade de drones ucraniana relataram ter observado uma tentativa de avanço de infantaria russa numa das frentes de combate, tentativa essa que foi travada pelas forças ucranianas com recurso a drones. Posteriormente, registaram-se vários ataques aéreos russos na mesma área.

A trégua foi pensada para coincidir com o desfile militar do Dia da Vitória, organizado pelo Kremlin em Moscovo, no qual estiveram presentes vários líderes estrangeiros, incluindo o Presidente da China, Xi Jinping. A Ucrânia e a maioria dos países ocidentais assinalam a derrota da Alemanha nazi no dia 8 de maio.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, condenou a cerimónia russa, descrevendo-a como “um desfile de cinismo”, dada a continuidade da violência nas frentes de combate. Zelenskyy assinalou a data com uma caminhada pelo centro de Kiev, durante a qual gravou um vídeo selfie em que presta homenagem aos soldados ucranianos caídos em combate.

O fim da trégua temporária surge num momento em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recentemente regressado ao cargo, propôs um novo cessar-fogo incondicional de 30 dias entre a Rússia e a Ucrânia. Segundo fontes próximas da administração norte-americana, Trump advertiu que os Estados Unidos poderão aplicar novas sanções caso a Rússia viole o novo acordo, caso venha a ser aceite.

Volodymyr Zelenskyy confirmou ter mantido uma conversa telefónica com Donald Trump, assegurando que a Ucrânia está preparada para implementar imediatamente o cessar-fogo proposto. O líder ucraniano falou também com o chanceler alemão, Friedrich Merz, e com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que reafirmaram o seu apoio contínuo à Ucrânia.

Entretanto, a 8 de maio, o Parlamento ucraniano ratificou por unanimidade um novo acordo sobre recursos minerais com os Estados Unidos, que inclui um pacote de 50 milhões de dólares em equipamento militar. O objetivo do acordo é reforçar as capacidades defensivas da Ucrânia e consolidar os laços estratégicos e económicos entre os dois países, numa altura em que o país continua a enfrentar intensa pressão militar por parte da Rússia.

O envio de equipamento militar, no âmbito deste acordo, representa mais um sinal do reforço da cooperação entre Washington e Kiev, num contexto de conflito prolongado e de crescente instabilidade na frente de combate.






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