Trump volta a ameaçar anexar a Gronelândia e ex-líder da NATO responde em desafio: “Vergonhoso”

O antigo primeiro-ministro dinamarquês e ex-secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, criticou duramente as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a possibilidade de anexar a Gronelândia, território autónomo do Reino da Dinamarca. “Acho vergonhoso que um presidente americano possa ameaçar um aliado. A Dinamarca é um dos aliados mais próximos e fiáveis dos Estados Unidos”, afirmou Rasmussen em entrevista ao Politico, esta segunda-feira, a partir da capital dinamarquesa.

A Gronelândia — ilha com cerca de 57 mil habitantes, rica em recursos naturais e de importância geoestratégica crescente no Ártico — voltou a estar sob escrutínio da Casa Branca. Durante uma entrevista ao programa Meet the Press da NBC, no dia 4 de maio, Donald Trump recusou-se a afastar a hipótese de recorrer à força para obter controlo sobre o território. “Não excluo nada. Não digo que o vá fazer, mas não excluo nada. Precisamos muito da Gronelândia. A Gronelândia tem uma população muito pequena, da qual cuidaremos e que estimaremos, tudo isso. Mas precisamos dela para a segurança internacional”, declarou Trump.

Estas afirmações provocaram uma forte reação em Copenhaga. O governo dinamarquês convocou o embaixador dos EUA para apresentar um protesto formal, manifestando preocupação com a escalada retórica. A tensão intensificou-se ainda mais depois de o Wall Street Journal ter revelado que Trump ordenou às agências de inteligência americanas que aumentassem os esforços de recolha de informações na ilha.

Além disso, segundo a agência Reuters, responsáveis da administração Trump estão a estudar a possibilidade de propor à Gronelândia um Compacto de Livre Associação, um modelo atualmente em vigor com países insulares do Pacífico como as Ilhas Marshall, Palau e Estados Federados da Micronésia. Este tipo de acordo garantiria à Gronelândia serviços essenciais, proteção militar e acesso quase livre de tarifas ao mercado dos EUA, em troca de uma relação estreita com Washington — embora mantendo uma forma de independência formal. Ainda assim, tal proposta representaria uma clara mudança na relação entre os EUA e o território dinamarquês.

Para Rasmussen, que liderou o governo dinamarquês entre 2001 e 2009, estas ideias colidem com a vontade do povo gronelandês e com o direito internacional: “A Gronelândia é parte da Dinamarca e os gronelandeses não querem tornar-se americanos”, frisou.

O antigo líder da NATO também recordou que, embora os Estados Unidos tenham o direito de manter bases militares na Gronelândia ao abrigo de um tratado de 1951, a sua presença tem vindo a diminuir nas últimas décadas. Ainda assim, deixou espaço para uma aproximação defensiva dentro da NATO: “O facto é que a Gronelândia faz parte da NATO. Se os Estados Unidos estão insatisfeitos com a defesa da Gronelândia… então gostaríamos de ver uma cooperação de defesa reforçada com os Estados Unidos.”

Esta não é a primeira vez que Donald Trump manifesta interesse em adquirir a Gronelândia. Durante o seu primeiro mandato, em 2019, a proposta de compra da ilha foi recebida com espanto e rejeitada veementemente pelas autoridades dinamarquesas. A então primeira-ministra Mette Frederiksen classificou a ideia como “absurda”, levando Trump a cancelar uma visita oficial à Dinamarca.

Com a Gronelândia a ganhar crescente importância geopolítica no contexto do degelo do Ártico, e com a competição com a China e a Rússia a intensificar-se na região, o território voltou a tornar-se central na estratégia de segurança nacional dos EUA. No entanto, as ameaças explícitas e a linguagem beligerante de Trump parecem estar a minar a confiança de aliados históricos e a levantar sérias questões sobre o futuro da cooperação transatlântica.






OSZAR »