‘Superdomingo’ eleitoral na Europa: Ida às urnas em Portugal, Polónia e Roménia marcada pela sombra de Donald Trump

Este domingo, três países europeus — Portugal, Polónia e Roménia — vão às urnas num momento eleitoral decisivo, não apenas pelos desafios internos que cada um enfrenta, mas também pela influência de um nome incontornável da política internacional: Donald Trump. Apesar de não estar formalmente nos boletins de voto, o presidente dos Estados Unidos tem sido uma presença constante nas campanhas, moldando discursos, alianças e estratégias eleitorais.

Entre o final de abril e o início de maio, cerca de 65 milhões de eleitores em dois países fora da Europa — Canadá e Austrália — já tinham votado num contexto em que a política externa de Trump influenciou decisivamente os resultados. Agora, com eleições cruciais no Velho Continente, analistas sublinham que o impacto do presidente norte-americano se faz igualmente sentir deste lado do Atlântico.

Portugal decide novo Parlamento num clima de incerteza
Em Portugal, os eleitores regressam às urnas neste domingo para eleições legislativas antecipadas, convocadas após a queda do Governo liderado por Luís Montenegro, na sequência da aprovação de uma moção de censura motivada por alegadas ligações entre o primeiro-ministro e contratos públicos atribuídos a uma empresa da qual fora administrador.

O partido de extrema-direita Chega, liderado por André Ventura, continua a crescer nas sondagens e poderá consolidar-se como a terceira força política no Parlamento, apesar de não se prever que consiga formar Governo. A ascensão do Chega insere-se num movimento mais amplo na Europa, onde partidos nacionalistas ou de extrema-direita têm vindo a conquistar terreno eleitoral.

Num contexto de crise institucional e instabilidade política, o escrutínio português é observado com atenção em Bruxelas, receando-se que uma eventual coligação à direita com apoio parlamentar do Chega possa pôr em causa consensos europeus em matéria de migrações, Estado de direito e apoio à Ucrânia – Ainda que Luís Montenegro, primeiro-ministro e candidato pela AD, tenha reforçado o seu ‘não é não’ a uma coligação com o Chega de André Ventura.

Polónia: Trump apoia candidato presidencial de direita radical
Na Polónia, a primeira volta das eleições presidenciais realiza-se também este domingo. O atual presidente Andrzej Duda, ligado ao partido nacionalista e de extrema-direita Lei e Justiça (PiS), não se recandidata, mas o seu campo político aposta no historiador Karol Nawrocki como sucessor. Nawrocki tem o apoio direto de Donald Trump, que o recebeu recentemente na Casa Branca.

“O presidente Trump disse: ‘vais ganhar’. Interpretei como um desejo de sucesso nas eleições e como um sinal claro de que o Governo norte-americano está atento ao que se passa na Polónia”, declarou Nawrocki após o encontro.

A oposição liderada pelo primeiro-ministro Donald Tusk aposta em Rafał Trzaskowski, atual presidente da câmara de Varsóvia e defensor das reformas pró-europeias. Carl Bildt, antigo primeiro-ministro sueco e atual presidente do Conselho Europeu de Relações Exteriores, considera, em declarações ao El Confidencial, que estas eleições são “fundamentais para as possibilidades futuras do governo de Tusk continuar o caminho reformista”.

Segundo uma sondagem da Opinia24 divulgada pela estação RMF, 49% dos polacos consideram que as ações de Trump são prejudiciais para a Polónia, enquanto apenas 29% as veem com bons olhos. O resultado do escrutínio poderá ter implicações significativas no futuro alinhamento geoestratégico do país.

Roménia: ascensão da extrema-direita e riscos para a política europeia
Na Roménia, o ultranacionalista George Simion lidera as sondagem para a segunda volta das eleições presidenciais. Na primeira volta, que ocorreu a 4 de maio, Simion conquistou a maior parte dos votos, depois de uma campanha campanha marcada por discursos anti-União Europeia e pela oposição declarada ao envio de ajuda militar à Ucrânia.

Simion é aliado de Călin Georgescu, um antigo candidato presidencial cuja candidatura foi anulada em dezembro passado pelo tribunal constitucional por suspeitas de ingerência russa. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, minimizou na altura essas preocupações, classificando-as como “palavras feias da era soviética”.

A vitória de Simion seria bem acolhida por Washington, mas vista com alarme em Bruxelas. Karol Nawrocki, candidato presidencial polaco, já felicitou publicamente Simion pela sua vitória na primeira volta, demonstrando o alinhamento ideológico entre ambos.

O sistema político romeno confere ao presidente competências relevantes em matéria de política externa e segurança, o que agrava as preocupações em relação ao afastamento de Bucareste da linha europeia comum, nomeadamente no apoio à Ucrânia.

Canadá e Austrália: o ‘efeito Trump’ impulsiona centro-esquerda
Nos últimos meses, os efeitos da política externa de Trump também se fizeram sentir fora da Europa. No Canadá, o novo primeiro-ministro Mark Carney — sucessor de Justin Trudeau — venceu as eleições impulsionado por um sentimento de unidade nacional em resposta às provocações do presidente norte-americano. Entre outras declarações, Trump referiu que o Canadá seria o “51.º estado dos EUA”, uma piada mal recebida no país vizinho.

Também na Austrália, o trabalhista Anthony Albanese venceu as eleições sob a ameaça da política comercial de Washington, que tem vindo a gerar instabilidade económica na região. Tanto Carney como Albanese beneficiaram de uma perceção pública que os via como resistentes à pressão dos EUA.

“O factor Trump tem sido muito importante. Impulsionou os governos no poder e a centro-esquerda, especialmente em países que se veem como resistentes à pressão dos EUA”, afirmou Carl Bildt.






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