Octogenário herdeiro Hermès volta a estar envolvido em polémica. Onde estão os 14 mil milhões de euros em ações da casa de luxo?

A fortuna de Nicolas Puech, herdeiro octogenário da casa de luxo Hermès, volta a estar envolta em polémica. O empresário está a ser processado nos EUA por alegadamente não ter cumprido um acordo de venda de ações no valor de cerca de 14 mil milhões de euros.

A ação foi interposta no mês passado pela Honor America Capital LLC, que afirma ter contado com o apoio do Emir do Catar, Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, para a aquisição.

Segundo os documentos judiciais apresentados em Washington, a empresa requer mais de 1,3 mil milhões de dólares em indemnizações, alegando que Puech não concretizou a venda das ações da Hermès International SCA conforme combinado. A defesa do herdeiro, contudo, nega qualquer envolvimento. O seu advogado, Grégoire Mangeat, garante que Puech “refuta veementemente” ter tido conhecimento do negócio, alegando que só soube do caso através da comunicação social, revela o ‘Cinco Dias’.

O enredo adensa-se com a questão legal de saber se Puech teria sequer capacidade para vender os títulos, uma vez que o paradeiro das ações permanece obscuro. O herdeiro, descendente direto do fundador da marca, afirma não controlar mais cerca de seis milhões de ações da Hermès. Esta situação remonta a disputas antigas na Suíça e França relacionadas com a sua herança.

A controvérsia intensificou-se em 2010, quando Bernard Arnault, líder da LVMH e rival no setor do luxo, revelou ter adquirido uma participação significativa na Hermès. Um acordo com a família Hermès, firmado em 2014, levou à saída de Arnault e à desistência de futuras aquisições, ao mesmo tempo que Puech renunciava ao conselho fiscal da empresa. Desde então, o destino da sua participação de 5,7% no grupo nunca foi totalmente esclarecido.

Em 2023, o herdeiro acusou o seu antigo gestor de ativos, Eric Freymond, de má administração, alegando que a sua fortuna teria sido destruída. No entanto, um tribunal de Genebra rejeitou a acusação, concluindo que Puech manteve o controlo sobre as contas com as ações e que não foi enganado. O empresário não recorreu da decisão.

Agora, o processo nos EUA levanta novas questões. Os documentos incluem cartas e acordos assinados entre a Honor America Capital e Puech, representado pelo advogado François Besse. Uma dessas cartas, datada de 27 de fevereiro e assinada pelo presidente da empresa, Abdulla Mishal Al Thani, refere o “compromisso financeiro total” do Emir do Catar com o negócio, revela a mesma fonte.

O acordo previa que Puech e uma holding associada, a Borysthene LLC, vendessem as ações. Contudo, em março, o negócio foi considerado inviável depois de Besse informar que os títulos não poderiam ser recuperados do banco suíço Lombard Odier, apesar dos “repetidos esforços”.

Se ainda detiver a sua participação original, Puech continua a ser o maior acionista individual da casa francesa conhecida pelas bolsas Birkin e lenços de seda, atualmente avaliada em cerca de 192 mil milhões de dólares. O clã Hermès é hoje a família mais rica da Europa, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg.






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