“O maior desafio que qualquer empresa enfrenta é a diferenciação”, diz o líder do grupo de trabalho Globalização da Associação BRP

Portugal precisa de empresas mais produtivas, que criem maior riqueza, paguem melhores salários e invistam mais.  Em entrevista à Executive Digest, Filipe de Botton, presidente da Logoplaste e líder do grupo de trabalho Globalização da Associação Business Rountable Portugal (BRP), refere que o programa Globalizar é a oportunidade «que as nossas empresas gostariam de ter tido quando começaram a dar os primeiros passos nos mercados internacionais».

Em que consiste a missão do grupo de trabalho Globalização da Associação Business Roundtable Portugal?
Uma parte significativa das empresas que estão na Associação BRP têm uma presença internacional de relevo, além da grande maioria também exportar. Assim, chegámos à conclusão de que talvez pudessemos criar instrumentos práticos e pragmáticos para ajudar as empresas a sair do “rectângulo”. Quando digo ajudar a sair, e embora elas possam estar apenas a vender no mercado nacional, Portugal é um mercado global. O mundo está cá. O que o programa pretende é ajudar as PME e dar-lhes apoio, ajuda, diálogo para poderem ganhar a coragem de sair além-fronteiras. 

Como é que o projecto Globalizar pode ajudar as PME a construir a sua rede internacional e a impulsionar o seu crescimento global?
Dentro da Associação BRP foi decidido organizar quatro eixos de trabalho e um deles está relacionado directamente com a parte das empresas. E perguntaram-me como podia ajudar neste tema, tendo em conta a presença internacional da Logoplaste. Ou seja, como podíamos ajudar e dar sugestões para as PME se internacionalizarem. Assim, olhamos para pequenas acções e pequenas ajudas concretas mas que façam a diferença.
As Conversas CEO com CEO permitem aos líderes de PME nacionais interessadas em internacionalizar-se reunirem com CEO/presidentes de empresas da Associação BRP, que colocarão ao dispor o seu conhecimento e experiência na área da globalização. É um diálogo com todos para tentarmos responder e desmistificar os factos, quer da exportação, quer da internacionalização. Criamos relações de “mentoring” e, muitas vezes depois dos pequenos-almoços, estamos à disposição para uma pergunta ou café adicional. 

Depois, fomos também ver o que hoje se faz de bem em Portugal e existe um organismo de Estado, o AICEP, que foi perdurando ao longo dos vários governos, com iniciativas muito interessantes, como o INOV Contacto. Pretendemos trabalhar em articulação e não estar criar mais um organismo. Não nos podemos esquecer que temos 70 mil jovens
internacionais que estudam em Portugal todos os anos. E então porque não olhar para eles e oferecer-lhes algo para permanecerem em Portugal, o chamado INOV Contacto Reverse (é uma das ferramentas práticas e evolutivas que compõem o programa Globalizar e permitirá às empresas portuguesas oferecerem estágios em Portugal a jovens estrangeiros que completam o seu mestrado em Portugal). 

Quais as vantagens para as empresas que aderirem ao projecto Globalizar?
Uma das maiores ansiedades que sentimos é ir para o desconhecido, como quando eu fui para os EUA, Vietname ou até Inglaterra. É muito melhor começar a actividade, seja em que país for, sem ter de alugar um escritório e saber onde é a repartição de finanças ou como encontrar um advogado. São pequenas coisas da vida, como tirar uma fotocópia ou saber onde contratar colaboradores, mas que fazem toda a diferença para que uma empresa exista. Por isso, poder estar integrado dentro de uma empresa portuguesa, em que vai para as instalações e se está a trabalhar no meio de 80 ou 100 pessoas, já faz metade do caminho. Nesse sentido, criámos mais de 40 espaços de trabalho pelo mundo, em que pode estar lá e ser recebido no aconchego de uma empresa que já existe. 

O que é que as empresas devem fazer para reter talento no nosso País?
O salário não é o primeiro tema que vem à conversa quando estamos numa entrevista a contratar jovens. Há muito mais, como o propósito da empresa, o que faz, o posicionamento no mercado e o work life balance. Hoje, por exemplo em ter-
mos de IT, por menos de três ou quatro dias de teletrabalho é muito difícil arranjar colaboradores. O salário não é a única variável. Hoje, se quiser contratar um colaborador, enfrento a competição de qualquer mercado internacional.  

Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam neste processo de internacionalização?
Vivemos num mundo global,  a competitividade é estimulada pela concorrência. O maior desafio que qualquer empresa enfrenta é a diferenciação. Tenho de me diferenciar de alguma forma, conhecendo bem a minha empresa, os meus serviços e criando um produto altamente competitivo e inovador. É isso que vai fazer a diferença. Em termos concorrênciais, é isso mesmo que está em causa.  

Antendendo à sua experiência, quais os principais factores para se ser bem-sucedido no processo de internacionalização?
O conceito da internacionalização é um risco completamente diferente do da exportação. É preciso montar um escritório ou uma fábrica fora de Portugal, daí termos chamado a este progama Globalizar. No caso da internacionalização, é fundamental ter bem claro o montante a alocar e, se algo correr mal, não colocar em risco o meu negócio em Portugal. E se correr bem posso continuar a desenvolver o meu negócio. 

Considera que a liderança das PME ainda têm uma mentalidade conservadora no que diz respeito à expansão além-fronteiras?
Cada caso é um caso. Existe um tema muito importante, que é a mudança inter-geracional. Acho que isso podia ser verdade há uns 20 ou 30 anos. As novas gerações são muito mais cosmopolitas, viajaram, têm a cabeça muito mais aberta. Há uma vontade em aceitar esse mundo global.

Como é que Portugal pode ser um país mais competitivo? Menos burocracia? Redesenhar o sistema fiscal? Mais incentivos à inovação?
Os problemas estão todos identificados e é só implementar as políticas para corrigir e ter coragem de o fazer.






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