“Ministro da propaganda”: Sebastião Bugalho apanhado nas escutas da ‘Operação Tutti-Frutti’ quando ainda era jornalista
O eurodeputado do PSD, Sebastião Bugalho, surge mencionado em várias escutas telefónicas no âmbito da ‘Operação Tutti-Frutti’, reveladas esta semana pela revista Sábado. As gravações, datadas de 2017 e 2018, referem-se ao período em que Bugalho exercia funções como jornalista nos jornais i e Sol, e envolvem a alegada articulação de conteúdos jornalísticos com figuras políticas ligadas ao PSD.
Segundo a publicação, uma das situações documentadas pela investigação diz respeito a uma entrevista conduzida por Sebastião Bugalho, em setembro de 2017, a Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, em Lisboa. As escutas sugerem que o conteúdo final da entrevista foi alvo de interferência de Sérgio Azevedo, então deputado do PSD e atualmente um dos arguidos no processo.
De acordo com a mesma fonte, Bugalho terá partilhado com Azevedo o conteúdo da entrevista antes da publicação, e o antigo deputado terá sugerido alterações. O próprio jornalista terá mencionado que cortou um excerto onde Newton elogiava António Costa, afirmando: “Até parecia um gajo do PS”.
Foi também neste contexto que, após trocas de palavras entre os dois, Sérgio Azevedo afirmou: “Um dia, a gente vai tomar conta do País”, ao que acrescentou que Bugalho seria o “nosso ministro da Propaganda”. Em resposta, o atual eurodeputado retorquiu com ironia: “O Goebbels”, numa alusão a Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda nazi durante o regime de Adolf Hitler, entre 1933 e 1945.
Perante a divulgação das escutas, Sebastião Bugalho foi contactado pela revista Sábado, tendo reagido com surpresa ao destaque dado ao seu nome neste caso. “Estranho a repetida tentativa de me associar a um processo no qual não fui ouvido, arguido ou acusado”, sublinhou o eurodeputado do PSD, que encabeça a lista do partido às eleições europeias de 9 de junho.
Quanto à prática de enviar entrevistas a fontes políticas para revisão, Bugalho explicou que, como jornalista, “em algumas situações, devido ao barulho na gravação ou, como na pandemia, ao uso da máscara, procurei sempre confirmar as declarações dos entrevistados, enviando-lhes o texto. Fiz isto com várias pessoas de vários partidos”, garantiu.
A ‘Operação Tutti-Frutti’ investiga suspeitas de troca de favores, manipulação de listas autárquicas e distribuição de cargos entre dirigentes do PSD e PS em Lisboa, num processo que envolve dezenas de escutas telefónicas, entre outros meios de prova. Até à data, Sebastião Bugalho não consta como arguido no processo.