Mariana Vieira da Silva rejeita “carta branca” à AD para governar e exige clareza à direita

A dirigente socialista Mariana Vieira da Silva defende que o Partido Socialista (PS) deve manter um papel estabilizador no atual quadro político, mas sem assinar compromissos de legislatura com a Aliança Democrática (AD). Recusando uma “espécie de carta branca”, em entrevista à Rádio Renascença, Vieira da Silva alertou para o risco de a direita querer garantir orçamentos com o PS enquanto negocia alterações estruturais com o Chega e a Iniciativa Liberal (IL). “Não me parece que possamos estar a falar de uma espécie de carta branca, de se dizer ‘venha o que vier, aqui estamos’”, afirmou a antiga ministra no programa Casa Comum, onde participa regularmente.

Mariana Vieira da Silva, que foi vice-presidente da bancada parlamentar do PS, criticou duramente a estratégia da AD, que acusa de tentar usar o PS para assegurar a aprovação dos Orçamentos do Estado, ao mesmo tempo que se posiciona para negociar com os partidos mais à direita matérias como a revisão constitucional. “Se o Governo quer negociar revisão constitucional e afins com o Chega e com a IL, então porque cabe ao Partido Socialista aprovar os orçamentos?”, questionou, classificando essa lógica como “um caminho que põe em risco a democracia”.

Antecipando o debate orçamental no outono, a dirigente socialista avisou que será “uma provocação” se o Governo incluir no Orçamento medidas que sabe poderem contar com o apoio do Chega e da IL. “Aí, quem não está a contribuir para a estabilidade política é a AD”, sublinhou. Para Mariana Vieira da Silva, a estabilidade deve ser construída com base em diálogo transparente e com respeito pelas posições de cada partido, não com jogos táticos que confundam os eleitores. Nesse sentido, rejeitou também qualquer exigência presidencial de um acordo escrito entre PS e PSD para os quatro anos da legislatura. “Não temos condições para agora, à partida, decidir caminhos por quatro anos. O PS tem de se constituir como alternativa”, afirmou.

Ainda assim, Mariana Vieira da Silva defendeu que o PS deve estar disponível para dialogar com o PSD em áreas de interesse comum, como a habitação ou a imigração. “Durante décadas, o PS e o PSD mantiveram um diálogo muito forte e nunca divergiram, por exemplo, em matérias relacionadas com a imigração”, recordou, insistindo que “o contributo para a estabilidade política deve ser um objetivo fundamental do Partido Socialista”, também para travar a ascensão do Chega. A dirigente apelou à leitura atenta dos sinais do eleitorado e defendeu entendimentos pontuais que não comprometam a autonomia política do PS.

Quanto à sucessão de Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva revelou que, apesar de o seu nome ter sido considerado como possível candidata à liderança do PS, não avançou por considerar que disputas internas antes das autárquicas eram indesejadas por muitos. “Percebi que não serviriam para o propósito que deviam servir, que é contribuir para a reflexão”, explicou. A socialista preferia um calendário mais alargado, que permitisse um debate mais sério e participado, mas reconheceu que o processo seguiu um ritmo mais acelerado. Ainda assim, mostrou-se confiante de que José Luís Carneiro liderará de forma “abrangente”, assente em decisões “mais colegiais”.

Por fim, Mariana Vieira da Silva abordou as notícias que davam conta de divisões internas no PS quanto à moção de confiança ao Governo de Luís Montenegro, rejeitando qualquer tentativa de reescrever o passado. “Não estive em nenhuma reunião como aquela que me parece estar descrita na notícia”, afirmou, criticando a divulgação de posições internas após a decisão ter sido tomada. “Dois meses depois, vir dizer que na altura disse A ou B, não parece a forma certa de ser solidário”, disse, elogiando Fernando Medina por ter assumido publicamente uma declaração de voto na altura própria. Reforçou ainda que, apesar de ter manifestado divergências com a liderança em vários momentos, entende que as decisões coletivas devem ser respeitadas e não revistas retroativamente.








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