A profecia de Lagarde: Presidente do BCE previu o que está a acontecer entre EUA e China

Em abril de 2023, em plena guerra na Ucrânia, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), lançou um aviso que hoje soa profético. Num discurso intitulado “Bancos Centrais num Mundo Fragmentado”, a líder do BCE antecipava a intensificação da rivalidade entre os EUA e a China e as profundas consequências económicas da crescente polarização geopolítica.

Segundo Lagarde, o mundo caminha para uma divisão em dois blocos liderados por Washington e Pequim, com estratégias opostas e tentativas de atração — ou coerção — de outros países para as suas respetivas esferas de influência. Do lado norte-americano, a diplomacia iniciada na era Trump tem usado tarifas como ferramenta negocial em diversas frentes, não apenas comerciais, mas também tecnológicas e estratégicas, revela o ‘elEconomista’. A imposição do uso de tecnologia norte-americana e a exigência de afastamento da China são hoje temas centrais nas negociações dos EUA com países da América Latina e da Europa.

Do lado chinês, a estratégia passa por uma aproximação prolongada ao Sul Global através do programa “Belt and Road Initiative” (BRI), conhecido como a nova Rota da Seda, que já envolveu mais de 68 países e investimentos superiores a um bilião de dólares em infraestruturas.

A globalização das cadeias de produção, que permitiu décadas de crescimento robusto e inflação controlada, está assim a ser substituída por uma era de incerteza, com menor crescimento e maior volatilidade nos preços.

A chamada “desglobalização parcial” tem exposto vulnerabilidades estruturais: os EUA dependem da importação de 14 minerais críticos e a Europa depende da China para 98% das suas necessidades em terras raras. Qualquer perturbação nestas cadeias de fornecimento pode ter efeitos significativos sobre setores essenciais da economia.

Com esta nova realidade, os bancos centrais veem o seu leque de ferramentas limitado. A tradicional resposta de subir taxas de juro para conter a inflação pode ser ineficaz — ou até contraproducente — quando o problema está do lado da oferta.

 






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