A cor mais feia do mundo está a ajudar a combater o tabagismo em 23 países

É castanho? É verde? Ou algo entre os dois? O tom Pantone 448C, frequentemente descrito como “a cor mais feia do mundo”, foi escolhido para afastar os consumidores dos produtos de tabaco e já é parte integrante da estratégia antitabágica de 23 países, incluindo alguns Estados-membros da União Europeia. A ideia, que nasceu na Austrália em 2012, visa tornar os maços de cigarros visualmente repulsivos, reforçando o efeito dissuasor das imagens e mensagens de saúde pública.

A origem desta medida remonta a um estudo encomendado pelo governo australiano à agência GfK, que questionou mil fumadores sobre qual seria, na sua opinião, a cor mais desagradável. A resposta unânime apontou para a Pantone 448C, uma tonalidade difícil de descrever — entre o castanho, o verde e o amarelo — frequentemente associada a sujidade, alcatrão e até morte, segundo noticiou o The Guardian em 2016.

Apesar disso, Leatrice Eiseman, diretora executiva da Pantone, declarou que “não existe uma cor mais feia do que outra” e que o tom em causa representa “tons terra profundos e ricos”, comuns em objetos quotidianos como sapatos ou sofás. Contudo, o efeito psicológico entre os fumadores foi suficientemente forte para justificar a sua aplicação em políticas públicas de saúde.

A partir de 2012, a Austrália tornou-se o primeiro país a implementar embalagens de tabaco padronizadas, sem logótipos, marcas ou qualquer elemento gráfico apelativo. Os maços passaram a apresentar unicamente imagens de doenças associadas ao consumo de tabaco e avisos como “Fumar mata” ou “Fumar provoca cancro do pulmão”, sobre um fundo uniforme na cor Pantone 448C. A eliminação de elementos de marketing visou quebrar a associação entre identidade da marca e o hábito de fumar.

A medida revelou-se tão eficaz que acabou por ser replicada noutros países. França, Reino Unido, Irlanda, Nova Zelândia, Noruega, Tailândia, Uruguai, Arábia Saudita, Eslovénia, Turquia, Israel, Canadá, Singapura, Bélgica, Países Baixos, Hungria, Dinamarca, Finlândia, Maurícias, Omã, Laos, Mianmar e Geórgia são alguns dos países que seguiram o exemplo australiano.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem apoiado firmemente esta abordagem, incentivando os países signatários da Convenção-Quadro para o Controlo do Tabaco a “adotar medidas para restringir ou proibir o uso de logótipos, cores, imagens de marcas ou informações promocionais nas embalagens, exceto nomes de marcas e nomes de produtos exibidos em uma cor e estilo de fonte padrão (embalagem simples)”.

Este modelo de embalagem, conjugado com campanhas de sensibilização e outras medidas fiscais e legislativas, constitui atualmente uma das frentes mais visíveis no combate global ao tabagismo. O uso da cor considerada mais desagradável do mundo é, assim, mais do que uma curiosidade estética: tornou-se uma ferramenta eficaz de saúde pública.






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