EDP: A urgência da transição energética
O ano de 2024 foi oficialmente declarado o mais quente já registado, deixando marcas profundas em várias partes do mundo através de fenómenos climáticos extremos. Em Valência, por exemplo, as cheias devastadoras serviram como um lembrete próximo da força destrutiva das alterações climáticas. Estes eventos, cada vez mais frequentes e intensos, têm vindo a reforçar a urgência de acelerar a descarbonização e a electrificação das sociedades. Já não há espaço para dúvidas: as emissões de carbono resultantes das actividades humanas são as principais responsáveis por este aquecimento global. Desde a Revolução Industrial, a queima de combustíveis fósseis impulsionou um aumento exponencial destas emissões, acompanhando os avanços na produção e utilização de energia, que rapidamente se tornou o alicerce da economia moderna. A energia ilumina casas e empresas, alimenta a indústria, permite a mobilidade e molda profundamente o modo de vida contemporâneo, sendo um elemento essencial para o desenvolvimento das sociedades.
No entanto, o sistema energético herdado dessa revolução industrial já não responde às necessidades do futuro que se pretende construir. Este modelo depende fortemente de combustíveis fósseis que poluem o ambiente e agravam as alterações climáticas, além de estar sujeito a instabilidades e dependências geopolíticas. Para agravar a situação, continua a ser inacessível para muitas pessoas, travando o progresso em diversas áreas da economia. Por isso, a transição energética – a mudança para uma economia baseada em energias renováveis – emerge como a grande revolução da nossa era. Contudo, uma transformação desta escala e urgência só será possível com o envolvimento de toda a sociedade. Estima-se que cerca de 55% das reduções necessárias para atingir a neutralidade carbónica dependerão das escolhas individuais dos consumidores, como optar por um carro eléctrico, melhorar a eficiência energética das habitações ou utilizar bombas de calor eléctricas para o aquecimento de água. Diante deste cenário, a pergunta que se impõe é clara: o que podemos fazer para acelerar esta mudança?
O POTENCIAL DA ENERGIA SOLAR
Uma das respostas mais promissoras passa por electrificar a sociedade, substituindo o uso de combustíveis fósseis, como gasolina, gasóleo e gás, por alternativas eléctricas. Neste contexto, o investimento em soluções descentralizadas de energia limpa, como a energia solar, destaca-se como uma prioridade. Só será possível acelerar a transição energética se todos os espaços disponíveis forem aproveitados para instalar pequenas centrais solares descentralizadas – em prédios, moradias, telhados de empresas ou coberturas de parques de estacionamento. Em resumo, famílias e empresas precisam de começar a produzir e a consumir a sua própria energia através de painéis que transformam a radiação solar directamente em electricidade para uso doméstico ou empresarial.
A energia solar apresenta-se como uma fonte de sustentabilidade, uma vez que, em apenas uma hora, o sol produz energia suficiente para abastecer o mundo durante um ano, sendo uma fonte virtualmente inesgotável. Além disso, oferece independência e poupança, reduzindo a exposição dos consumidores às flutuações de preço do mercado e permitindo reduções significativas na factura energética. A aquisição de painéis solares pode reduzir o consumo de energia da rede até 30%, valor que pode ascender a 70% em soluções equipadas com baterias que armazenam a energia não utilizada no momento. Em termos de competitividade, o intervalo médio de recuperação do investimento tem-se reduzido, situando-se entre seis e dez anos para famílias e entre quatro e seis anos para empresas, com os painéis solares a apresentarem uma durabilidade média de 25 anos e uma manutenção muito reduzida.
A EDP tem desempenhado um papel relevante neste movimento, com projectos que abrangem tanto famílias como empresas em 15 mercados, totalizando mais de 3 GWp (gigawatts-pico) contratados. Só no mercado português, mais de 140 mil famílias já optaram por poupar na factura da energia com painéis solares EDP. Uma novidade recente no mercado é a solução de painéis solares em gradeamentos de varandas, pensada para quase metade da população portuguesa que vive em apartamentos e não dispõe de telhados próprios para produzir energia. Com um peso de apenas três quilos e meio por painel – em contraste com os 20 quilos dos painéis tradicionais –, a oferta EDP Solar Apartamentos permite uma poupança no consumo de energia da rede até 25%, democratizando o acesso aos benefícios da energia solar.
Outro exemplo inovador são os Bairros Solares EDP, que promovem a partilha de energia renovável entre comunidades. Uma família pode tornar-se vizinha de um bairro solar, enquanto uma empresa pode criar o seu próprio bairro ou participar como vizinha noutro. Quem tem espaço disponível pode instalar painéis solares sem qualquer investimento e tornar-se produtor, consumindo e partilhando energia com descontos que podem chegar a 60% na energia autoconsumida. Já quem não dispõe de espaço pode juntar-se a um Bairro Solar existente, também sem custos envolvidos e beneficiando de descontos até 35% na energia consumida.
Um caso concreto é a parceria entre a EDP e o Millennium bcp, que integrou mais de 130 sucursais do banco em comunidades de energia solar por todo o país, partilhando os benefícios desta energia limpa. Outro exemplo é o projecto com o Grupo Fundação AIP, que vai instalar mais de nove mil painéis fotovoltaicos nos telhados da Feira Internacional de Lisboa, criando a maior comunidade de energia de Portugal, com 5,1 MWp (megawatts-pico) de capacidade, suficiente para tornar os edifícios praticamente auto-suficientes durante o dia e beneficiar mais de cinco mil vizinhos.
A par disso, soluções de armazenamento de energia têm ganho destaque. Na Bondalti, em Estarreja, a EDP vai instalar baterias que armazenam electricidade renovável produzida localmente, oferecendo maior flexibilidade e independência energética à empresa, num projecto pioneiro em Portugal que complementa as centrais solares já em operação no complexo industrial.
MUDAR A FORMA COMO NOS MOVEMOS
É igualmente crucial mudar a forma como nos movemos, com a mobilidade eléctrica a posicionar-se como uma escolha cada vez mais vantajosa. Esta opção destaca-se por várias razões. Em primeiro lugar, é mais sustentável, uma vez que o sector dos transportes contribui directamente para 25% das emissões de CO2 a nível mundial. Além disso, a oferta de veículos eléctricos tem vindo a melhorar, com motores de desempenho superior, maior eficiência energética e preços cada vez mais competitivos. Existem também benefícios financeiros e fiscais, como isenções de impostos (IUC, ISV, IRC e IVA) e incentivos à aquisição, além da poupança em combustível, estacionamento e custos de manutenção.
Para carregar um veículo elétrico, uma das opções passa pelos pontos de carregamento público, onde a EDP já conta com mais de seis mil pontos contratados na Península Ibérica. Em Portugal, a cobertura da empresa abrange 100% dos distritos e mais de metade dos concelhos, um investimento que se reflete nos carregamentos recordes atingidos na rede da empresa em 2024. A empresa venceu recentemente um concurso público da Mobi.e para instalar e operar 190 novos pontos em 45 municípios, de Norte a Sul do país.
Parcerias com supermercados – como a ALDI Portugal –, hotéis, restaurantes, estações de serviço e lojas, como a Staples, têm permitido instalar carregadores em locais estratégicos de conveniência, possibilitando aos condutores carregar os veículos enquanto fazem compras, comem ou descansam.
A empresa oferece ainda soluções práticas como o cartão CEME EDP, que permite ao cliente carregar o seu veículo com electricidade 100% verde fora de casa, independentemente do fornecedor de energia doméstico, e o EDP Charge, uma aplicação que gere os carregamentos de forma totalmente digital numa única plataforma.
Além dos pontos de carregamento públicos, outra opção é o carregamento em casa ou no trabalho: para condomínios, a EDP desenvolveu uma solução integrada que optimiza a energia disponível e gere contas entre o condomínio e os proprietários através de um mecanismo de liquidação automática; já para empresas, a nova solução EDP Charge Frota inclui infra-estrutura de carregamento, gestão de carregadores e um cartão com plafond, permitindo que os colaboradores carreguem os veículos em casa, no escritório ou na rede pública, com os custos suportados pela empresa. Com esta solução, a EDP pretende simplificar a transição das frotas empresariais para a mobilidade eléctrica.
TRANSFORMAR O CONSUMO DE ENERGIA
Por fim, mudar a forma como consumimos energia é outro pilar essencial desta transição. A eficiência energética é benéfica para o ambiente, com potencial para reduzir em mais de 40% as emissões de gases com efeito de estufa relacionadas com a energia nos próximos 20 anos. Mas os ganhos não se limitam ao impacto ambiental. Para as empresas, onde a energia representa um componente significativo dos custos – especialmente em indústrias de elevada intensidade energética –, a eficiência energética aumenta a competitividade num contexto de alta volatilidade de preços do mercado. Já para as famílias, um consumo mais consciente e eficiente também se traduz em reduções nas despesas.
Como alcançar esta eficiência? Algumas medidas práticas incluem tirar proveito da energia solar, investir em isolamento térmico, optar por janelas eficientes, controlar a entrada de luz e calor, apostar na eficiência do aquecimento da casa e das águas, escolher electrodomésticos eficientes, utilizar lâmpadas LED, tornar a casa inteligente com domótica, evitar deixar equipamentos em modo standby e realizar a manutenção correcta dos equipamentos. Estas acções, maioritariamente simples, mas eficazes, demonstram que a transição energética não depende apenas de grandes investimentos ou políticas globais, mas também de escolhas quotidianas que, em conjunto, podem acelerar a mudança para um futuro mais sustentável.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Ecologia, eficiência energética e mobilidade elétrica”, publicado na edição de Abril (n.º 229) da Executive Digest.