
Este objeto que tem na sua cozinha pode conter mais bactérias do que a sanita. Saiba como evitar riscos para a saúde
Um dos objetos mais comuns na cozinha — e paradoxalmente, aquele que usamos para a manter limpa — pode ser o maior foco de bactérias desta divisão da casa. Especialistas em segurança alimentar e microbiologia confirmam: a esponja da cozinha pode conter mais bactérias do que a própria sanita.
Segundo Darin Detwiler, especialista em segurança alimentar e professor na Universidade de Northeastern (EUA), em entrevista ao HuffPost “uma esponja suja pode conter mais bactérias do que uma sanita”. Em vez de remover os germes, explica Detwiler, o seu uso repetido “espalha microrganismos, transformando os esforços de limpeza num acto involuntário de contaminação”.
As esponjas oferecem um ambiente propício ao crescimento microbiano: são húmidas, quentes e acumulam partículas de alimentos, o que as torna um habitat ideal para diversas bactérias. Esta realidade é agravada pelo facto de serem utilizadas com frequência e raramente limpas de forma eficaz.
A estrutura porosa das esponjas é outro factor determinante. Jason Tetro, microbiologista e autor do livro The Germ Code, explica que “as esponjas têm uma quantidade impressionante de área de superfície”, permitindo que bactérias não só cubram o exterior como se desenvolvam em profundidade, formando estruturas tridimensionais. Em condições favoráveis, o número de bactérias pode duplicar em apenas 30 a 60 minutos. Estudos citados por Tetro apontam para a presença de “dezenas de milhares de milhões de bactérias por centímetro cúbico”.
Charles Gerba, microbiologista e professor na Universidade do Arizona, acrescenta que é comum encontrar bactérias fecais em esponjas de cozinha. Estas podem ser transferidas ao limpar superfícies onde se manuseou carne crua ou simplesmente ao tocar na esponja com mãos mal lavadas após este tipo de preparação alimentar.
Riscos reais para a saúde
Embora muitos microrganismos presentes no ambiente sejam inofensivos, alguns podem representar sérios riscos para a saúde. Tetro salienta que, especialmente em esponjas contaminadas com sucos de carne crua, podem desenvolver-se bactérias patogénicas. Entre as mais preocupantes estão a Salmonella, Escherichia coli, Campylobacter e Listeria, que, segundo Detwiler, “podem causar graves problemas gastrointestinais, desidratação e complicações potencialmente fatais, sobretudo em crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas”.
Além de abrigarem estas bactérias, as esponjas actuam como veículos de disseminação. “Cada vez que limpa uma bancada ou enxagua um prato, corre o risco de transferir milhões de microrganismos para as mãos, utensílios e alimentos”, alerta Detwiler.
Como higienizar — e quando substituir — a esponja da cozinha
Especialistas recomendam várias abordagens para reduzir os riscos associados às esponjas. Becky Rapinchuk, especialista em limpeza e fundadora do Clean Mama, aconselha colocá-las na prateleira superior da máquina de lavar loiça diariamente. “De manhã, torça-a bem e deixe-a secar ao ar”, sugere.
Kristin DiNicolantonio, directora do American Cleaning Institute, propõe uma alternativa: mergulhar a esponja durante cinco minutos numa solução composta por um litro de água e três colheres de sopa de lixívia. Após a desinfecção, deve ser bem enxaguada e deixada a secar. É fundamental lavar bem as mãos após este processo.
Quanto à substituição, DiNicolantonio recomenda trocar a esponja a cada duas a três semanas, ou logo que surjam sinais de desgaste ou mau cheiro. Como alternativa mais segura, Detwiler sugere o uso de escovas (laváveis na máquina de lavar loiça) ou panos reutilizáveis, que secam mais rapidamente e podem ser desinfectados na máquina de lavar roupa. Estudos mostram que escovas acumulam menos bactérias do que esponjas.
Outros pontos críticos na cozinha que muitos ignoram
Apesar de a esponja ser o maior foco de bactérias, outros itens da cozinha também exigem atenção:
Frigorífico
Segundo Kadi Dulude, fundadora da empresa de limpezas Wizard of Homes NYC, até pequenos derrames podem ser suficientes para espalhar bactérias no interior do frigorífico. A especialista recomenda limpar imediatamente qualquer sujidade e fazer uma limpeza geral antes de cada ida às compras, quando o frigorífico está mais vazio. Uma solução de vinagre com água é eficaz para limpar e neutralizar odores. O uso de forros laváveis nas prateleiras também facilita a manutenção.
Tábuas de corte e bancadas
“As tábuas entram em contacto directo com carnes cruas, cujos sucos são um terreno fértil para bactérias”, afirma Dulude. Estas não devem ser deixadas de molho no lava-loiça. Devem ser lavadas e bem esfregadas imediatamente após o uso. A especialista recomenda o uso de tábuas de madeira, pois esta tem propriedades antibacterianas naturais, ao contrário do plástico. Também é aconselhável utilizar tábuas separadas para carnes e vegetais.
No caso das bancadas, Tetro aconselha a limpeza com água e sabão após cada uso. Se carne crua foi manuseada sobre elas, deve-se aplicar um desinfectante adequado para superfícies de contacto com alimentos e depois enxaguar bem.
Lava-loiça
O lava-loiça é outro ponto negligenciado, apesar de servir para lavar tachos, panelas, legumes e, frequentemente, abrir embalagens de carne sobre ele. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, estas práticas facilitam a proliferação de bactérias. Gerba recomenda o uso regular de toalhitas com lixívia ou desinfectantes apropriados após a preparação de carne. A NSF (organização dedicada à segurança sanitária) aconselha a desinfecção do lava-loiça uma a duas vezes por semana, e do ralo e triturador de resíduos uma vez por mês, utilizando uma solução de um litro de água com uma colher de sopa de lixívia.
“Segurança alimentar começa nas nossas próprias cozinhas”, reforça Detwiler. “As escolhas que fazemos — desde substituir uma esponja a lavar correctamente as mãos — podem ser a diferença entre uma refeição segura e uma doença evitável.”